Como melhorar sua performance: “O intra treino”

- POR Maria Rocha

Os efeitos positivos do carboidrato na performance durante treinos mais longos já estão bem documentados. A questão mais investigada depois desta constatação seria: qual a “dose ótima” que deve ser ingerida pelo atleta? Com essa pergunta, inúmeros estudos começaram a ser feitos. Fazendo um grande resumo, a maioria deles dividia os atletas em 3 grupos e fornecia para cada grupo determinada quantidade de carbo (por exemplo: 60g, 70g e 80g). Muitos estudos não encontravam diferença significativa na performance quando eram fornecendas maiores gramaturas. Pelo contrário, muitas vezes era observado (o que estamos acostumados a ver na nossa prática) um desconforto gástrico quando a quantidade elevada de carboidrato era ingerida. Isso acontece pois não conseguimos absorver de uma vez todo este volume e o excesso (não absorvido) acaba causando um grande desconforto abdominal.

Os autores começaram a pesquisar então as limitações da absorção intestinal deste nutriente e perceberam que essa ocorria quando apenas um tipo de carboidrato era ingerido. A literatura mostra que algo em torno de 60g/hora é o máximo que um único tipo de carboidrato pode ser absorvido. Ingerir mais que isso não aumentaria a performance e poderia gerar o temido desconforto gástrico. Mas então, como aumentar a performance/ capacidade de absorção deste?

A solução seria usar multi transportadores de carboidratos! Primeiro precisamos entender que cada molécula deste nutriente (carboidrato) possui um transportador proteico diferente. Quando este transportador está saturado não podemos mais absorver, mas podemos fornecer outro tipo de carbo que utilizará um diferente transportador. Como saldo final temos: mais quantidade sendo absorvido por hora e podendo gerar aumento de performance.

Explicando melhor, alguns estudos sugerem que se oferecermos diferentes tipos de carboidratos, cada um com sua velocidade de absorção (rápida/ lenta/ média), durante o treino (entenda diferentes tipos de carbo: glicose, frutose, isomaltulose, trehalose..) a absorção total poderia ser maior e melhoraria a performance do atleta durante o treino.

Estudo feito em 2004 (Jentjens, Moscley, Waring, Harding e Jeukendrup) mostou que comparado com a ingestão de glicose isolada, a ingestão concomitante glicose+futose resultou em um aumento de 45% na oxidação de carboidratos (um efeito bastante positivo para atletas).

Concluindo… a tão temida frutose (que grande parte da população tem excluído de suas dietas atualmente) possui um papel importantíssimo na performance durante um treino longo. Muitos repositores já possuem esta combinação de diferentes fontes de carboidrato. Mas, para quem prefere algo mais natural, fazer um “blend” de carbos utilizando frutas para tal seria um bom negócio a se pensar!

Só uma observação:

Confesso que algumas coisas que leio pela internet têm me causado grande preocupação. Parece que para que o profissional se “mostre bom” ele tem que criticar e contradizer todo um conhecimento que se tinha anterior sobre o assunto. Não quero dizer que não temos que evoluir e aprender que determinadas coisas que fazíamos no passado estão erradas ou ultrapassadas.. É claro que isso acontece! A ciência evolui, novos estudos são feitos… O problema é quando querem simplesmente colocar abaixo um conhecimento sem base científica para tal e há uma crítica superficial que não faz sentido bioquimicamente! O maior prejudicado com isso tudo é o leigo, que, inocentemente, acredita em poucas palavras bonitas e replica um conhecimento falso. Pronto, a confusão está gerada!

Falei isso (e resolvi escrever sobre tal), depois de ver inúmeros atletas cortando todas as frutas da dieta por acreditarem que a frutose é um veneno! Como tudo na ciência, temos que olhar uma substância por todos os ângulos. Assim, como demonstrado, será que não podemos tirar bons proveitos da frutose?

Saiba usar e explorar o melhor de cada alimento! Não precisa simplesmente excluir este item da sua dieta!

Referência: Carbohydrate feeding during exercise Asker E. Jeukendrup

European Journal of Sport Science, March 2008.

De Julia Engel para Papo Gula



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